Apesar de me considerar uma grande fã da escritora inglesa Jane Austen, a obra desta resenha é apenas a segunda da autora que eu li até o momento. Então, não seria tão errado dizer que sou fã, antes mesmo de ser da autora, de sua obra Orgulho e Preconceito, a qual já nem sei mais quantas vezes a li. Mas não vou me estender em explicações acerca deste livro, uma vez que ele é a leitura programada do mês de junho. Atentemos então à Razão e Sensibilidade.
Tenho em casa um box, lindíssimo, de três séries da BBC, baseadas em três livros de Jane Austen: Orgulho e Preconceito, Razão e Sensibilidade e Emma. São séries muito bonitas, as quais já assisti diversas vezes. Apesar de ainda não ter lido o livro, tinha um grande carinho pela trama de Razão e Sensibilidade. Porém, como todos sabem, o livro tem sempre muito mais detalhes e acontecimentos que uma adaptação de série ou de filme.
Box DVD's - Coleção Jane Austen BBC |
Ou seja, o fato de eu já ter assistido à série antes, não me tirou, de maneira alguma, o prazer da leitura, uma vez que descobri muitas outras coisas, compreendi melhor outras, como também pude comparar adaptações e diferenças entre a série e a obra literária em si. De qualquer forma, a experiência da minha leitura só me fez constatar, enfaticamente, a minha predileção à Orgulho e Preconceito.
Elinor, de longe, foi a ligação mais sincera que tive com a história – experiência de leitora –. A personagem Marianne – jovem, sonhadora, romântica, sensível – irritou-me em muitos momentos, seja pela sua sinceridade “grosseira”, a sua cegueira sentimental, e inevitavelmente os seus impulsos, os quais, muitas vezes, ofendiam e feriam pessoas à sua volta.
Porém, acredito que a intenção da autora, pelo menos até certo ponto, foi de realmente causar no leitor tais opiniões a respeito da personagem. Digo isso devido ao crescimento da personagem após um grande desapontamento amoroso e ao seu amadurecimento. Mas, não nego que ultimamente certas personagens românticas estão irritando-me profundamente. “Oh, meu Deus! Por que será?” Pergunto-me todos os dias...
Breve resumo – sem muito spoiler – da história: a Sra. Dashwood fica viúva, com três filhas mulheres para cuidar. O filho do primeiro casamento de seu ex-marido torna-se o único herdeiro da grana toda por ser o único homem. Elas ficam sem rumo, até que recebem um convite, de um primo da mãe, para habitar um chalé, bem distante das terras de Norland – o casarão lindo onde cresceram. Elinor, a filha mais velha da Sra. Dashwood, deixa em Norland o seu coração, pois apaixona-se sinceramente por Edward, irmão da mulher – podrérrima – de seu meio-irmão. Marianne, a irmã do meio, ao chegar em Barton, conquista a atenção do Coronel Brandon e do jovem e belo e arrogante e chato e metido e nojento e inconsequente e impossível de Willoughby – eu acho esse nome tão ridículo quanto ele próprio. Tenho que admitir que as cinco últimas características do personagem foram de minha opinião. Desculpe-me, não pude me conter.
As duas personagens principais são Elinor e Marianne. Daí o nome do livro para compor o perfil das duas: Razão e Sensibilidade. Elinor, é descrita como inteligente e sensata; enquanto que a sua irmã é tida como inteligente, romântica e sensível. Todavia, a sensibilidade dessa personagem, muitas vezes pode ser considerada mais como impulsividade e imaturidade. Pelo menos para mim foi assim, fato que me irritou e está me preocupando: não estou tendo paciência para personagens assim ultimamente.
Mas Marianne era realmente muito jovem, inexperiente e apaixonada! Sem contar que o seu coração doído de amor – quase fatal – proporcionou-lhe um grande amadurecimento. Na realidade, nas últimas folhas do livro, pode-se notar que a intenção da autora, desde o início, estava focada em provar Marianne. Provar que ela e seus sentimentos tão romanescos estavam exagerados e – felizmente para a personagem – errados.
Agora, o que a série ou o filme – sim, tem um filme também com Alan Rickman, paixão secreta da minha irmã, já falecido, Deus o tenha – conseguiram esconder foi o exagero da autora em tentar diminuir a culpa de Willoughby – ô nome feio – no cartório. Se eu entrar em detalhes, farei um dos maiores spoilers da humanidade. Porém, não colou, pelo menos para mim, a tentativa de pintar nele um coração apaixonado e sincero, ao tempo que outra pessoa sofre, para sempre, as mazelas de uma vida abandonada e infeliz causada pelo personagem.
Não vejo problema algum em o personagem procurar sua redenção, tentar se desculpar ou limpar a sua imagem. Mas o que pude perceber foi um narrador tendencioso, procurando atenuar a culpa do personagem, induzindo o leitor de uma maneira suave em além de o desculpar de suas atitudes duvidosas, convencer da pureza de seus sentimentos. Acontece que fatos são fatos, e eles bastam para mostrar muito mais de nós do que acreditamos. Além disso, outra personagem – desta vez mulher – cometeu um “erro” extremamente parecido com o do cavalheiro Willoughby. Porém as opiniões, tanto dos personagens quanto do narrador, foram muito contrárias: de extrema acusação e críticas pesadas; atribuindo a esta personagem toda o antagonismo da trama. É certo que ambos personagens cometeram um desvio de conduta, porém o tratamento diferenciado, coincidentemente ou não por serem de sexo diferentes, incomodou-me profundamente.
Vou terminar a minha resenha por aqui. Continuo gostando da história, apesar de um ponto ou outro ter me incomodado. Posso afirmar que gosto dos romances da Jane Austen, apesar de Razão e Sensibilidade deixar muito a desejar em comparação a Orgulho e Preconceito. Estou ansiosa para ler os próximos!
Antes de me despedir, a leitura do mês de fevereiro só será iniciada no mês de fevereiro. Até lá, tentarei encaixar uma outra leitura, quem sabe! Portanto, pretendo cumprir o cronograma direitinho!
Até a próxima!
Carolina Pires.
Eu não li esse livro da Jane Austen ainda, mas agora fiquei curiosa. Gostei em como você foi sincera em relação ao narrador, ainda que goste bastante da Austen. É difícil falar com tanta honestidade de autores que gostamos.
ResponderExcluirEu gostei bastante de 'Orgulho e Preconceito', mas confesso que o meu queridinho é 'Persuasão'. Achei que todas as personagens foram escritas de forma um tanto mais madura que nos outros livros, principalmente na questão de maturidade. Ás vezes sinto que sempre há a necessidade de se ter um jovem estúpido e mal caráter para fazer a história andar e isso me incomoda um pouco - o que é diferente em Persuasão.
Você disse: 'Mas, não nego que ultimamente certas personagens românticas estão irritando-me profundamente.' e isso me fez pensar em uma coisa. Acho que o maior problema dessas personagens é principalmente as ações por impulso. Parece que ser romântico significa ser impulsivo e ingênuo, sempre fazendo bobagens e se deixando levar. Isso me desestimula um pouco.
No mais, ótima resenha! Estou curiosa para ver as outras! :)
Então... A primeira coisa que minha irmã falou sobre esta resenha foi algo assim: "Você foi crítica mesmo se tratando de Jane Austen. É importante entender que os pesos e gênios, tanto da arte como da literatura, são tocáveis." E achei espetacular. Devemos deixar de carregar um peso de uma obrigação de concordar ou ajustar-se a sentimentos específicos de um clássico. Nós, como leitores, devemos nos permitir. Cada um tem uma experiência diferente, um encontro próprio com a obra e demos respeitar isso. Defendo a honestidade do leitor! Hahaha :)
ExcluirQuanto a esses personagens românticos tão estereotipados, realmente, haja paciência com eles, e a minha está no fim, confesso. Esta em particular, mesmo levando uns solavancos da vida e crescendo, não perdeu sua sensibilidade aflorada. Hahahaha
Você me deixou super curiosa a respeito de Persuasão! Vou encaixá-lo na leitura desse ano COM CERTEZA.
Obrigada pelo tempinho em ler e deixar um comentário. Seus comentários são enriquecedores.