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Drácula - Bram Stoker

Drácula - Bram Stoker
Com muita honra, ao som imaginário de um órgão tocando – sozinho – uma música fúnebre, venho descrever um pouco da minha experiência com a leitura desse clássico: Drácula, de Bram Stoker. A versão que li é da Editora Madras (2002), tradução de Sandra Guerreiro, cuja capa – ilustração de Claudio Gianfardoni – dá medo só de olhar.

Romancista, poeta e contista, Bram Stoker, nascido na Irlanda em 1847, foi quem escreveu a principal obra sobre vampiros – mas não a primeira –, a qual, até os dias de hoje, serve de inspiração para muitas outras obras e adaptações para o cinema e televisão.

Drácula é uma obra intensa, com traços góticos, em que prevalecem as descrições de eventos noturnos como noites mal dormidas, sonambulismo, invasões de propriedades privadas, perseguições e a sede de aniquilação da personificação do mal! 

O livro é um conjunto de fragmentos de diários, cartas, telegramas e registros, com uma sequência cronológica, feito pelos próprios personagens. Este detalhe fez com que eu, leitora, sentisse-me próxima dos narradores, uma vez que esse tipo de registro – principalmente os diários – passe uma ideia de total sinceridade e intimidade. 

A história traz sete personagens importantes, além do Drácula, claro. Em certo momento, os destinos destes personagens se cruzam, dando início a uma perseguição do bem contra o mal – aliás, o livro todo trabalha com essa dualidade de luz e sombras –. Destaco aqui os meus personagens preferidos: Mina, e o dr. Van Helsing. Sim, Van Helsing! Certamente, este nome soa bem familiar, mesmo a quem nunca leu o livro! Isso é uma das inúmeras vantagens de se ler clássicos, você acaba por descobrir várias obras posteriores que foram fortemente inspiradas neste tipo de livro. 

Entretanto, um pouco diferente de algumas adaptações, Van Helsing não se parece com o gatíssimo Hug Jackman (filme de 2016), sem falar que no anime de Kouta Hirano (1997), Hellsing trata-se de uma organização que combate vampiros e outros seres da escuridão, e não uma pessoa. O dr. Van Helsing, do nosso livro, é um senhor de cabelos grisalhos, doutor conceituadíssimo, que vem comandar a caça ao Drácula depois deste colocar em risco a vida de uma pessoa ligada ao seu ex-aluno, dr. Seward, que chefia um grande manicômio onde está internado um paciente bem atípico que adora comer moscas e baratas! Uhmm... Delícia! 

A Mina é uma mulher forte, corajosa, inteligente e centrada! Sempre disposta a ajudar os amigos, ela é, desde o início, uma personagem muito influente no percurso da história. Para mim, Mina é a contraposição de Lucy, sua amiga; enquanto Lucy é frágil, delicada, inocente – características típicas da mulher no romantismo –, Mina mostra-se uma pessoa mais firme e segura, ajudando a amiga em algumas situações de imenso perigo. Trago aqui uma pequena expressão – um tanto machista – que Van Helsing faz referindo-se à Mina: “Ah, a maravilhosa Mina! Ela tem o cérebro de um homem, um cérebro de um homem muito bem dotado, e o coração de uma mulher.”. Apesar de ter me incomodado bastante, essa colocação não é nada mais que a prova concreta que, independente do gênero, as pessoas tem sim capacidades iguais, até mesmo quando a tarefa é combater um ser obscuro como um vampiro. 

Mas chega de conversa, vamos direto ao nosso anti-herói, personagem central dessa história toda. Drácula está bem longe de ser um Brad Pitt ou um Tom Cruise de “Entrevista com o Vampiro”, e mais distante ainda do galã Eduard da saga “Crepúsculo”, que, apesar de muitos anos de experiência de mundo, age como um adolescente de 17 anos. 

Vlad Drácula é, na obra, um ser obscuro, sórdido, realmente é a personificação do mal. O seu hálito tem odor pútrido e sua presença é deveras inquietante, incômoda e extremamente perigosa. Ao contrário do que conhecemos nas histórias vampirescas mais recentes, os lobos não são inimigos de Drácula, mas sim aliados, inclusive, segundo Van Helsing, um vampiro pode tomar forma de um lobo para camuflar-se, além de ter domínio sobre estes e outros animais como morcegos, ratos, traças, raposas... 

Nesta obra, as armas para combater os vampiros são as nossas velhas conhecidas, como: alho – muito alho –, imagem da cruz e, à luz do dia, estes seres necessitam de recolher-se ao seu solo não sagrado. Agarrar-se a isso, enquanto o sol impera, é a única forma de sobrevivência, ou seja, apesar de muito mais aterrorizantes, os vampiros daqui são mais frágeis do que aqueles que conseguem sobreviver à luz solar. 

Para mim, as descrições dos eventos finais – finalzinho do livro – poderiam ter sido mais detalhadas, embora eu tenha devorado essa parte, devido à minha ansiedade incontrolável diante do desfecho da história. E claro, a leitura não foi agradável, e nem deveria! Não é bem isso que procuramos ao ler livros como este, não é mesmo? Foi, com certeza, uma leitura inquietante, e por isso mesmo eu adorei!

Após o término de minha leitura, confesso sentir sinceras saudades dos “meus queridos amigos” e da “nossa sociedade” que buscava a solução dos mistérios vampirescos e um mundo livre de vampiros. E se eu pudesse encaminhar um pequeno recado a “esses meus amigos” ou a qualquer um que esteja desconfiando de um vampiro por perto, escreveria: Meu caro amigo, qualquer palidez na face da pessoa ao lado não é mera obra do acaso. Confira imediatamente o seu pescoço!

Até a próxima! 

Carolina Pires.

Comentários

  1. Sua resenha ficou ótima, mas confesso que sempre desejei que o Drácula matasse todos no final, não querendo parecer doentia. Porém a origem do meu desejo não foi o fato de ter afinidade com o monstro, mas sim porque não me simpatizei muito com os mocinhos da história e acabou que a leitura se tornou um pouco cansativa para mim, o personagem que eu considerava mais importante e interessante (Drácula) foi muito pouco tratado e sua história de romance que atravessa encarnações não foi bem esclarecida. A época em que o livro foi escrito existia uma percepção do que é um vilão muito diferente da atualidade, neste fato que coloco a culpa do escritor não ter tratado o Drácula da forma como eu queria vê-lo (ou seja, mais de perto). Excluindo logico a imagem de vampiro "crepusculesco" que se criou atualmente (que na minha opinião uma merda), mas sim analisando como os vilões em geral são tratados atualmente, não sendo um ser totalmente desprovido de bondade ou 100% ruim, visto de perto o conhecemos em todos os ângulos, sou parte desta geração que necessita conhecer o mal para tirar as próprias conclusões se este mal é em um todo assim. Gostei do fato de você ter tido a capacidade de aceitar esta mentalidade de vilão que existia na época, eu infelizmente por mais que tentasse muito achei um saco!

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    Respostas
    1. Hahahaha! Obrigada pela sua contribuição, Monique! Que pena que não tenha gostado tanto da história como eu, mas sua opinião controversa exemplifica bem as diferentes sensações que as grandes obras podem nos proporcionar! Um beijo!

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